Thursday, February 14, 2008

Guerra Justa: não é apenas defensiva

http://rightreason.ektopos.com/archives/2006/03/paleoconservati.html

http://rightreason.ektopos.com/archives/2006/03/paleoconservati_1.html

http://rightreason.ektopos.com/archives/2006/03/paleoconservati_2.html

Os textos examinam o caso concreto da Invasão do Iraque, a elabora uma defesa contra a crítica de um certo livro NEO-CONNED, que, supostamente escrito por paleconservadores, defende a tese de que a guerra no Iraque não satisfaz às condições prescritas na Tradição Católica para a guerra justa. O sr Edward Feser passa então a examianr, e é isso que é útil em nosso contexto, quais efetivamente são as condições clássicas da doutrina de Guerra Justa cristã, e destaca a literatura canônica pré-Concilio Vaticano II.

Claramente se contraria neles a idéia de um conceito de guerra justa baseado meramente em “guerra defensiva”:

" In an article on National Review Online last year, philosopher David Oderberg noted that despite the tendency of contemporary churchmen to speak as if war is never justifiable except in self-defense, Catholic manuals of ethics and moral theology prior to Vatican II commonly taught that a response to immediate attack was only one of several possible legitimate justifications for going to war.

Consultando o artigo citado no parágrafo acima, encontramos o trecho referente à guerra justa:

" Official teaching such as the Catechism of 1992/1997 allows the possibility of war justified by the right of self-defence or perhaps the defence of another country. But the traditional view has always been broader than this: Actual physical aggression or the threat thereof is one potential jus ad bellum (ground for war), but so, according to the standard moral theology manuals of the 1950s, are freedom from tyranny and liberation from religious oppression whereby a nation is prevented from worshipping God. Even a grave dishonor to a country can be a good reason for going to war. And the standard pre-1960s theology books also teach that it might be an act of charity for a nation to go to war to bring orderly government to a country in chaos.

These textbooks are merely echoing the centuries-old teaching of the Catholic Church as embodied in its greatest minds, such as St. Augustine and St. Thomas Aquinas. To be sure, the textbooks agree that war is a horrendous thing, only to be justified in serious circumstances. But they are at some remove from John Paul, who never seems to have met a war he didn’t abhor."

Observando que o trecho "... freedom from tyranny and liberation from religious oppression whereby a nation is prevented from worshipping God está evidentemente associado com a questão da Arábia Saudita colocada anteriormente.

Outra citação:

"For example, Fagothey’s Right and Reason (2nd ed.) tells us that “offensive war is just when fought to vindicate seriously violated rights" (p. 577). Jone’s Moral Theology says that “both offensive and defensive war are lawful for a just cause" (p. 142) and McHugh and Callan’s Moral Theology (Rev. ed.) agrees: “Just war is either offensive or defensive" (vol. I, p. 557). "

Lembrete de Natal (2000)

Lembrete de Natal

Olavo de Carvalho
O Globo, 23 de dezembro de 2000

A coincidência do Natal e do Eid-al-Fitr (fim do jejum) muçulmano é uma ocasião para lembrar que os pontos de contato entre as religiões cristã e islâmica - e também a judaica - vão muito além do que as fórmulas de bom-mocismo ecumênico podem sugerir.

Se há uma lição definitiva a tirar do estudo das religiões comparadas é que elas são incomparáveis: não são espécies do mesmo gênero, que possam ser avaliadas uma pela outra. São manifestações irredutíveis - e irredutivelmente diversas - de uma luz intelectual supra-humana que, derramando-se sobre objetos diferentes, produz diferentes refrações. A comparação, aí, só pode tomar duas direções: ou o confronto estéril do inconfrontável, ou a simples inspiração que nos leva a erguer os olhos para a fonte comum, quer a imaginemos como motor imóvel ou como a fonte eternamente silenciosa de todo Verbo.

Por isso o estudo comparativo das religiões, quando toma a forma do confronto de doutrinas prontas, desemboca na disputa dos teólogos - e esse tipo de discussão, dizia o profeta Maomé, leva indiscutivelmente ao inferno. Muito mais frutífera é a aproximação dos símbolos, que dizem a mesma coisa em linguagens diversas, mas de tal modo que a mente, ao apreender a comunidade de sentido entre elas, não pode traduzi-la numa terceira. Compreendida como disciplina contemplativa, a ciência dos símbolos sacros é uma introdução à clareza do indizível.

Talvez ainda mais significativa que a coincidência do Natal com o Eid-al-Fitr seria a aproximação dele com a Laylat-al-Qadr, a noite em que o Corão "desce" dos céus ao coração do profeta. Maomé é o analfabeto que, no silêncio da noite, recebe em ditado angélico o mais belo livro da língua árabe, livro que transcende as propriedades do idioma ao ponto de sua recitação em voz alta afetar os animais, que se detêm para ouvi-la. É também à noite que a Virgem, fecundada pelo Espírito, dá à luz a mais nobre das criaturas humanas, indistinguível do Criador mesmo. A analogia entre esses dois sublimes paradoxos é evidente. E, enquanto os teólogos disputam nas trevas, cotejando Cristo a Maomé, a narrativa, em si, é "luz sobre luz": Maomé não corresponde a Cristo, mas a Maria, o portador humano do Verbo divino; Cristo não é Maomé, é o Verbo divino, o Logos, Kalimat’ullah.

O espírito sopra onde quer, da forma que quer. Como diz o Corão, "há nisto um sinal, para os que entendem". Isso não quer dizer que o Papa esteja errado ao afirmar que o cristianismo é a única via de salvação. Como poderia estar errado, se o conceito mesmo de "via de salvação" não se aplica ao Islã ou ao judaísmo? O judaísmo é a lei, a constituição divino-histórica do povo eleito, não a via de salvação para as almas individuais, para os pecadores errantes e ovelhas desgarradas. E a palavra mesma "religião" não corresponde ao árabe din, que assim se traduz erroneamente. Din é o modo natural e primordial do ser social humano, a constituição civil da sociedade sacra - algo sem correspondência no evangelho, onde Deus fala às almas individuais, alheio e indiferente ao que é de César.

Como, pois, comparar essas dimensões diferentes, achatando-as no confronto doutrinal do certo e do errado?

As religiões, simplesmente, não falam da mesma coisa. É preciso ter compreendido isto para atinar que é a mesma Voz que fala por meio de todas elas. Os conflitos correm por conta da incompreensão humana, angustiada pelos seus esforços vãos de reduzir à unidade doutrinal algo que não é doutrina, mas que é a Presença mesma. O próprio Corão ensina-nos o limite dessas especulações, e adverte judeus, cristãos e muçulmanos: "Concorrei na prática do bem, que no juízo final Nós dirimiremos as vossas divergências."