Tuesday, April 15, 2008

A virgindade de Maria e os irmãos de Jesus

A virgindade de Maria e os irmãos de Jesus
PERGUNTA
Nome:
Fábio
Enviada em:
29/07/2005
Local:
Bragança Paulista - SP,
Religião:
Protestante
Indubitavelmente, este é um assunto já resolvido no meio protestante tradicional devido à abundância de textos nas Escrituras neotestamentária que o elucidam. Poderíamos até considerá-lo obsoleto se não fosse pelo mariocentrismo, doutrina da Igreja Católica Romana que teima em admitir que Maria permaneceu virgem após o parto (virginitas post partum), o que torna parte dessa teologia um verdadeiro desvario e um grande óbice ao verdadeiro cristianismo ortodoxo. Durante séculos, a mariologia tem sofrido evoluções cada vez mais ousadas, e o tempo é testemunha disso:• Em 400 d.C, Maria foi proclamada “Mãe de Deus”; • Em 1854, a “Imaculada Conceição de Maria” torna-se dogma; • Em 1950, a “Assunção de Maria” vira artigo de fé.Hoje, cogita-se em colocar Maria junto à Trindade divina, formando assim uma quaternidade. O catolicismo está criando cada vez mais uma Maria totalmente diferente daquela apresentada pelos evangelhos. Ao inventarem supostos pais para Maria, Santa Ana e São Joaquim, baseados em livros apócrifos, os católicos ao mesmo tempo omitiram a verdadeira família de Maria e roubaram-lhe a nobre missão de mãe.A voz dos outros evangelistasOutro fator que corrobora com a interpretação acima é o fato de Lucas ter usado a expressão grega pro­totokos, que significa “Primogênito”, em relação ao nascimento de Cristo: “e teve a seu filho primo­gênito...” (Lc 2.7). Se Lucas quisesse dizer que Jesus foi o único filho de Maria, teria usado, de modo inequívoco, a expressão monogenes (unigênito, em português) que significa “[filho] único gerado”, como acontece em João 3.16. Mas não, ele usou, de modo consciente, o termo certo: “primogênito”, indicando que Jesus foi apenas o “primeiro” filho de Maria, e não o “único”. Se Jesus tivesse sido o único filho de Maria, os evangelistas mostrariam isso, de modo explícito, em seus escritos. Mas não é isso que constatamos no Novo Testamento.O que diz o Novo ­TestamentoUma leitura superficial do Novo Testamento, em especial dos evangelhos, mostrará, sem sombra de dúvida, que Jesus Cristo teve irmãos e irmãs (Mt 12.46,47, 13.55-56; Mc 6.3). E ainda nos dão os nomes dos irmãos: Tiago, José, Simão e Judas. E essas pessoas aparecem sempre relacionadas com Maria, mãe de Jesus, o que nos dá a impressão de que os escritores e os evangelistas quiseram nos transmitir o quadro de uma família composta por mãe e filhos. Vejamos: “Enquanto ele ainda falava às multidões, estavam do lado de fora sua mãe e seus irmãos, procurando falar-lhe. Disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, e procuram falar contigo” (Mt 12.46-47). Depois do milagre em Caná, Maria e os irmãos do Senhor aparecem juntos: “Depois disso desceu a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias” (Jo 2.12). Em outra ocasião, Maria e seus irmãos mandam chamá-lo: “Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando da parte de fora, mandaram chamá-lo” (Mc 3.31). João acrescenta que nem os seus criam em Jesus: “Pois nem seus irmãos criam nele” (Jo 7.5). E, por último, os irmãos de Jesus aparecem no cenáculo orando com Maria: “Todos estes perseveravam unanimemente em oração, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele” (At 1.14). Resposta a um suposto argumentoNão conseguindo desmentir o consenso cristalino das Escrituras, os mestres romanistas acabam forjando sofismas cada vez mais mascarados de piedade que, aos poucos, vão alcançando a mente e o coração dos adeptos católicos. Todavia, quando confrontados com a Bíblia, tais disparates revelam ser apenas paliativos ardilosos que, por vezes, acabam sendo pulverizados diante dos fartos argumentos bíblicos. Na tentativa de esquivar-se dos argumentos protestantes, os líderes católicos desenterram, das ruínas medievais, teses falaciosas floreadas com terminologias teológicas modernas para causar impressão. Uma dessas teses tenta transferir os irmãos de Jesus para uma outra Maria e, para alcançar esse objetivo, faz verdadeiro malabarismo com os nomes bíblicos. Consegue fazer uma combinação engenhosa com os textos de Marcos 6.3, 3.18, 15.14, 16.1 e João 19.25. Diz que Maria, mãe de Tiago (o menor) e de José é irmã de Maria (a mãe de Jesus) e mulher de Cleofas, a quem confundem com Alfeu. Resumindo: esses “irmãos” (Tiago e José) de Marcos 6.3, segundo essa teoria, na verdade seriam primos de Jesus. Uma explicação plausível e uma suposta base “bíblica” para a questão. Ledo engano!Origens dessa doutrinaNão se sabe ao certo onde e como começou a acreditar-se que os irmãos de Jesus, de quem tanto a Bíblia fala e “de modo explícito”, eram apenas seus primos ou irmãos em sentido espiritual (versão Romana) ou meio-irmãos de um casamento anterior de José (versão Grega). Parece que isso surgiu com uma deturpação da resposta de um soldado romano chamado Pantera aos judeus que acusavam Maria de cometer adultério (Atos de Pilatos 11.3 e Talmud, séc. II). No ponto de vista judaico, Jesus seria um filho bastardo desse suposto soldado. O fato é que essa doutrina ganhou força somente após o século IV, com Jerônimo. Até então, era praticamente desconhecida pelos antigos escritores pré-niceno. Como de praxe, é mais uma das invencionices da Igreja Católica. Um dos pais primitivos que mais colaborou para que essa distorção criasse corpo foi Orígenes, que se baseou em duas obras apócrifas: o “Proto-Evangelho de Tiago” e o “Evangelho de Pedro”, de meados do século II. Não demorou muito, Epifânio seguiu os passos de Orígenes e acabou abraçando tal idéia. É interessante notar que Orígenes, Epifânio e Jerônimo eram adeptos do ascetismo e da vida monástica que incluía a castidade. Orígenes, segundo alguns historiadores, chegou a castrar-se! Mais tarde, porém, essa teoria sobre os irmãos de Jesus foi desenvolvida e aperfeiçoada. Empacotada de modo sofismável pelos teólogos católicos, é agora um dos dogmas do catolicismo romano. O que muitos protestantes talvez não saibam é que até mesmo os reformadores Lutero e Calvino criam na virgindade perpétua de Maria. Mas, por outro lado, é bom frisarmos que muitos pais primitivos como Hegesipo, Tertuliano, Irineu e, posteriormente, Eusébio e Helvídio defendiam a idéia de que os irmãos de Jesus eram de fato seus irmãos carnais. A mesma defesa é feita atualmente por uma maioria esmagadora de protestantes e também por alguns teólogos católicos. Analisando o evangelho de MateusO texto de Mateus 1.25 afirma o seguinte: “e não a conheceu enquanto (até que) ela não deu à luz um filho; e pôs-lhe o nome de Jesus”. Para os protestantes, a referência bíblica em apreço parece ser, a princípio, uma fortaleza inexpugnável, e não é para menos, pois diz categoricamente que José não a conheceu “até” ou “enquanto” (heos, hou) ela não deu à luz. Ora, o que depreende e subentende-se é que, após o parto, Maria teve relações sexuais com seu marido como qualquer casal judeu normal de seu tempo! Parece ser esta a preocupação principal do evangelista ao transmitir sua mensagem. Mas, por outro lado, devemos concordar com nossos antagonistas romanos em que há casos em que Mateus usa a preposição “até” para dizer que não houve mudança após a ocorrência de determinado evento. Por exemplo, “Não esmagará a cana quebrada, e não apagará o pavio que fumega, até que faça triunfar o juízo” (Mt 12.20). É claro que o texto não está dizendo que o manso Messias será um ditador cruel após o triunfo do juízo. Outros textos bíblicos, além de Mateus, podem ser usados como exemplo: Salmo 110.1 e 1 Timóteo 4.13. Mas podemos ver Mateus usando a preposição “até” (que indica um limite de tempo, nos espaços, ou nas ações) quando o contexto diz claramente que há mudança. Vejamos: “E, havendo eles se retirado, eis que um anjo do Senhor apareceu a José em sonho, dizendo: Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito, e ali fica até que eu te fale; porque Herodes há de procurar o menino para o matar” (Mt 2.13). Assim, tomar este trecho de forma isolada não é de modo nenhum conclusivo para ambas as partes; não resolve o problema. Se quisermos obter uma idéia mais clara do assunto teremos de nos voltar para um contexto maior e achar algo fora desse trecho que complete esta lacuna e dirima a incógnita. Será que Mateus usou a preposição “até” para indicar mudança ou não? Resolveremos isso usando dois princípios de interpretação: o contexto imediato e o contexto mais lato. É notório que os casamentos orientais da época de Jesus eram, sem sombra de dúvida, bem diferentes dos do nosso tempo. Mateus declara que Maria estava desposada (entenda-se noiva) com José. Diz ainda que ele não a “conheceu até” (Mt 1.18). Algumas vezes a palavra “conhecer” é usada na Bíblia de modo figurado, significando relação sexual (Gn 4.25), e, neste caso, o contexto apóia este sentido.O significado de irmãos na BíbliaEm Mateus 12.47, na Bíblia católica, versão dos “Monges Maredsous”, o tradutor teceu o seguinte comentário sobre os “irmãos” de Jesus no rodapé da página: “Irmãos: na língua hebraica esta palavra pode significar também ‘parentes próximos’ ou ‘primos’, como neste caso. Exemplo: Abraão, tio de Lot, chama-o com a designação de irmão (Gn 11.27; 13.8)”. Outro estudioso católico afirma: “Assim sendo, é possível que por detrás dos ‘irmãos’ e ‘irmãs’ de Jesus estejam seus ‘primos’ ou ‘parentes’1. Refutação bíblica: Não existe um só caso na Bíblia, e principalmente no Novo Testamento, em que a palavra grega adelphós (irmão) é traduzida por primo ou parente. Das 343 vezes em que o N.T usa o termo adelphós, ele apresenta dois sentidos para a palavra “irmão”: a de irmão legítimo (carnal) e o metafórico. Sentido metafórico: Neste sentido, enquadram-se todos os textos sobre os seguidores de Jesus (Mc 3.35), os cristãos da igreja (1Co 1.1), os judeus (Rm 9.3) e os seres humanos em geral (Hb 2.11,17). É obvio que as referências nos evangelhos e nas epístolas aos “irmãos” (filhos de Maria) de Jesus não se enquadram nesta categoria. Sentido literal: É justamente neste sentido que a palavra irmãos (no plural) é usada, em sua grande maioria, na Bíblia. Nenhum estudioso católico jamais traduziu esta palavra como primos ou irmãos espirituais. As Escrituras não deixam nenhuma dúvida quanto a esse assunto. Duvido que alguém leia os textos que seguem e consiga empregar o sentido de primo ou irmão espiritual onde aparece a palavra irmãos. “E, passando mais adiante, viu outros dois (irmãos) Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com seu pai Zebedeu, consertando as redes; e os chamou” (Mt 4.21). “E todo o que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna” (Mt 19.29). A Bíblia deixa patente que quando a palavra “irmãos” aparece junto aos termos “pai” e “mãe” ela denota filiação legítima de sangue, e isto ninguém consegue eclipsar. Compare: “Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão, e Judas?” (Mt 13.55). Nas quinze ocorrências em que é empregado o termo adelphós em relação a Jesus o sentido básico é de irmãos legítimos. Mas alguns podem objetar dizendo que a palavra hebraica ah (irmão) aparece várias vezes significando irmãos não de sangue, mas primos ou sobrinhos. É verdade que a língua hebraica tinha um vocabulário um pouco pobre e, por isso, não possuía uma palavra específica para primos ou parentes. Então utilizava a expressão “irmão” de modo lato (Gn 29.12, 24.48) Esse artifício, no entanto, não é suficiente para que os católicos se esquivem da derrocada teológica! A palavra “irmão”, no hebraico, pode significar primo, mas, mesmo neste caso, temos de tomar cuidado. Geralmente, quando a palavra “irmão” é empregada no sentido de parente próximo o contexto esclarece a questão (1Cr 23.21-22). Além disso, o Novo Testamento foi escrito em grego, e não em hebraico. Será que no grego Coiné, língua na qual foi escrito o Novo Testa­mento, existia esta distinção ­praticamente ausente no hebraico? Vejamos. Termos do Novo Testamento para irmãos e primosNão devemos nos esquecer de que quando o Novo Testamento faz referências aos irmãos de Jesus o contexto não traz nenhum tipo de esclarecimento adicional, como acontece no Antigo Testamento. Além disso, os escritores sabiam a diferença entre os termos irmão (adelphós), primo (anepsiós) e parentes (sungenes). Mesmo Paulo, que usava bastante metáfora, sabia usar com distinção essas palavras. Tanto é que escreveu sobre os “irmãos” de Jesus sem deixar nenhuma dúvida ao laço carnal entre o Senhor e seus irmãos. Vejamos: “Não temos nós direito de levar conosco esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?” (1Co 9.5). “Mas não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor” (Gl 1.19). Como já falamos, e isso é interessante, o apóstolo Paulo sabia perfeitamente usar a palavra correta para primo (anepsiós) e parente (sungenes) em suas epístolas. Não havia motivo de confusão! “Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, o primo de Barnabé...” (Cl 4.10). “Saudai a Herodião, meu parente” (Rm 16.11). Caso a tese católica estivesse correta, o apóstolo poderia muito bem ter usado a expressão hoi anepsiós Kyriou (primos do Senhor), e não adelphói tou Kyriou (irmãos do Senhor), até porque os irmãos de Jesus estavam vivos quando o apóstolo escreveu as duas epístolas.Argumentos contraproducentesDiante do exposto, a única consideração plausível a que podemos chegar é que os “irmãos” de Jesus eram realmente seus irmãos legítimos. É justamente esse o sentido do termo adelphós no Novo Testamento. Apesar de todo o esforço empregado pelos católicos para defender a virgindade perpétua de Maria, seus argumentos são totalmente contraproducentes.O Salmo 69 é um texto profético com força suficiente para desmantelar o arcabouço erigido pelas artimanhas teológicas católicas. Qualquer exegeta que ler esse salmo terá de admitir que se trata de um salmo messiânico, ou seja, um salmo que fala sobre o ministério e a vida de Jesus, o Messias. No verso 8, o autor descreve perfeitamente a família de Jesus sem deixar dúvidas quanto à legitimidade carnal de parentesco entre eles. Vejamos: “Tornei-me como um estranho para os meus irmãos, e um desconhecido para os filhos de minha mãe”. Quando, então, comparado com alguns textos do Novo Testamento, João 7.3-8 por exemplo, o Salmo 69 torna-se um argumento esmagador contra a teoria católica. “Disseram-lhe, então, seus irmãos: Retira-te daqui e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque ninguém faz coisa alguma em oculto, quando procura ser conhecido. Já que fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Pois nem seus irmãos criam nele. Disse-lhes, então, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo; mas o vosso tempo sempre está presente. O mundo não vos pode odiar; mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más. Subi vós à festa; eu não subo ainda a esta festa, porque ainda não é chegado o meu tempo”. Compreendemos agora, por meio desse texto, o porquê de Jesus ter deixado sua mãe aos cuidados de João, e não de seus irmãos!
RESPOSTA
Fábio,
Ave Maria puríssima!

Você inicia sua carta escrevendo:

“Indubitavelmente, este é um assunto [virgindade perpétua] já resolvido no meio protestante tradicional”

Mas qual a importância do meio protestante tradicional em qualquer discussão teológica? Aliás, quando você fala em meio protestante tradicional, a qual você se refere, o batista, o luterano, o presbiteriano, o anglicano ou o metodista?

As decisões do protestantismo não têm a mínima importância, pois nunca Cristo prometeu qualquer garantia a herege algum, o fez entretanto à Sua Santa Igreja, que é a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, governada pelo Sucessor de São Pedro, o bispo de Roma

E você prossegue:

“Poderíamos até considerá-lo obsoleto se não fosse pelo mariocentrismo, doutrina da Igreja Católica Romana que teima em admitir que Maria permaneceu virgem após o parto (virginitas post partum), o que torna parte dessa teologia um verdadeiro desvario e um grande óbice ao verdadeiro cristianismo ortodoxo”

A Igreja Católica, Fábio, não teima nada, ela define verdades e proclama dogmas com o poder dado pelo próprio Cristo, ou você nunca leu o Evangelho, no qual está dito:

“Tudo o que ligares na terra será ligado no Céu” (Mt XVI, 19)

A virgindade perpétua da Santíssima Virgem foi definida por Pio IX, sucessor de São Pedro e herdeiro da promessa de Cristo, transcrita acima. Que Nossa Senhora foi Virgem antes, durante e depois do parto, foi ligado no Céu pelo poder das chaves, ou por acaso você não aceita essa parte da escritura?

“Durante séculos, a mariologia tem sofrido evoluções cada vez mais ousadas, e o tempo é testemunha disso:

• Em 400 d.C, Maria foi proclamada “Mãe de Deus”;
• Em 1854, a “Imaculada Conceição de Maria” torna-se dogma;
• Em 1950, a “Assunção de Maria” vira artigo de fé.”

Não existiu evolução nenhuma. Desde os primeiros séculos Nossa Senhora tem um papel singular na vida da Igreja, o que ocorreu foi que, nos primeiros séculos do cristianismo, durante a conversão dos pagãos, era perigoso apresentar a devoção mariana da forma como a conhecemos hoje, visto que os pagãos, oriundos de uma religião idólatra, poderiam facilmente, perante a grandeza incomensurável de Maria Santíssima, considerá-la como uma deusa.

Passado esse perigo, a devoção a grandíssima Mãe de Deus floresceu de maneira admirável em toda a cristandade.

Portanto o que houve foi prudência, não evolução.

“Hoje, cogita-se em colocar Maria junto à Trindade divina, formando assim uma quaternidade. O catolicismo está criando cada vez mais uma Maria totalmente diferente daquela apresentada pelos evangelhos. Ao inventarem supostos pais para Maria, Santa Ana e São Joaquim, baseados em livros apócrifos, os católicos ao mesmo tempo omitiram a verdadeira família de Maria e roubaram-lhe a nobre missão de mãe.”

Aqui, Fábio, você parte para a acusação puramente gratuita, não sem usar de muita má fé. Mostre-me onde houve essa cogitação absurda, envie-me a encíclica, decreto ou instrução eclesiástica onde se disse tamanha tolice. A Igreja Católica nunca cogitou tal coisa.

Nossa Senhora não é, de forma alguma, maior do que Deus, antes é infinitamente inferior a Ele, todavia, entre as criaturas, Ela é a mais gloriosa.

Você também acusa, ridiculamente, a Igreja de ter inventado supostos pais para Nossa Senhora. Como inventado? Acaso você pensa que Nossa Senhora não teve pais? São Joaquim e a Sant’Ana foram os pais de Nossa Senhora, sendo esse fato confirmado pela autoridade da Tradição Eclesiástica, autoridade essa de instituição divina.

Passemos agora a responder suas longas e infundadas considerações sobre a virgindade perpétua da Mãe de Deus.

Em seu texto você se limita a dizer que a comparação de textos bíblicos para provar que Tiago, José, Simão e Judas eram primos de Jesus é um “ledo engano.”

Nesse ponto você se limita a afirmar que esse argumento não é válido, esquece-se, entretanto, de dizer por que.

Para responder essa questão, transcrevo-lhe a brilhante resposta de Lúcio Navarro, em seu livro Legítima Interpretação da Bíblia, Campanha de Instrução religiosa, Brasil-Portugal, Recife, 1958 n º 400, pp.590 a 592 inclusive.


"400. Diante da frase de S. Mateus vista no número anterior, o leitor ainda poderá compreender como se tenham equivocado os protestantes, iludindo-se com as aparências.

Mas agora vai pasmar ao ver a malícia, a precipitação com que esses enfatuados intérpretes da Bíblia que a lêem continuamente e procuram aprendê-la de cor, ainda vão tirar da expressão irmãos de jesus uma conclusão. contra a virgindade perpétua do Maria Santíssima. Senão, vejamos.
Sabemos que a Escritura não somente designa com o nome de Irmãos aquêles que são filhos do mesmo pai ou da mesma mãe, como eram Caim .Abel, Esaú e Jacó, S. Tiago Maior e S. João Evangelista (que eram filhos de Zebedeu) etc.; mas também aqueles que são parentes próximos, como tios e primos. - A Escritura está cheia destes exemplos.

Abraão chama de Irmão a Lot: "Peço-te que não haja rinhas entre mim e ti, nem entre os meus pastores e os teus, porque somos irmÃos (Gênesis, XIII-8). Mais adiante a própria Bíblia o chama assim: "Abraão, tendo ouvido que Lot, seu irmão, ficara prisioneiro... (Gênesis XIV-14). Pois bem, "Lot era apenas sobrinho de Abraão, pois já antes disto se lê no Gênesis: "Tinha Abraão setenta e cinco anos, quando saiu de Harã. E ele levou consigo a Sarai, sua mulher, a Lot, filho de seu irmão, e todos os bens que possuíam (Gênesis XII-4 e 5).

Labão, diz a Jacó: "Acaso, porque tu és meu irmão, deves tu servir-me de graça ? (Gênesis XXIX-15). E no entanto Jacó era sobrinho de Labão:Isaac chamou a Jacó e o abençoou e lhe pôs pôr preceito dizendo: "Não tomes mulher da geração de Canaã; mas vai e parte para a Mesopotimia ... e desposa-te com uma das filhas de Labão, TEU TIO"" (Gênesis, XXVIII -l e 2). Realmente Jacó era filho de Isaac com Rebeca (Gênesis XXV, 21 a 25) e Rebeca era irmã de Labão: "Rebeca, porém, tinha um irmão chamado Labão (Gênesis, XXIV-29). E, no entanto, não só como vimos acima, seu tio o chama irmão, mas também quando Jacó se encontra com Raquel, que é filha de Labão (Gênesis XXIX-5 e 6), diz à moça que é irmão de Labão: "E lhe manifestou que era irmão de seu pai, filho de Rebeca (Gênesis XXIX-12).

Lê-se no Levítico que Nadab e Abiu, filhos de Arão (Levítico X-1) são mortos pôr castigo, pôr terem oferecido um fogo estranho nos seus turíbulos. Moisés chama os primos dos que faleceram: Misael e Elisafan, filhos de Oziel, tio de arão (Levítico X-4) e lhes diz: ide, tirai vossos irmãos de diante do santuário e levai-os para fora do campo (Levítico X-4).

Lê-se no livro de Paralipômenos que Eleazar e Cis são filhos de Moholi: "filhos de moholi: Eleasar e Cis"(I Paralipômenos XXIII-21), portanto Irmãos no verdadeiro sentido da palavra. Eleazar só teve filhas e não filhos; as filhas dele se casaram com os filhos de Cis. Espera-se que a Escritura diga: casaram-se com os filhos de Cis, que eram seus primos; mas ela diz: com os filhos de Cis, seus irmãos: "E Eleazar morreu e não teve filhos, senão filhas; e casaram com os filhos de Cis, seus irmãos (I Paralipômenos, XXIII-22).

É dentro deste costume hebreu de designar com o nome de irmãos, não só os que têm os mesmos pais, senão também os parentes próximos como tios, primos e sobrinhos, pois o hebraico não possuía palavras próprias para designar esses parentescos, que o Novo Testamento fala em irmãos de jesus e é o próprio Novo Testamento QUE SE ENCARREGA DE. DEMONSTRÄ-LO.
Querem ter a prova nossos amigos protestantes?

Dá alguma vez o Evangelho os nomes desses irmãos de Jesus, para que possamos identificá-los?

Sim, dá. Sabe-se dos nomes, pelo menos de 4: Tiago, José, Judas e Simão: "Não é este o oficial, filho de Maria, irmão de tiago, de José, de judas e de simao? Não vivem aqui entre nos também suas irmãs ? (Marcos, I-3). "Porventura não é este o filho do oficial ? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos tiago, josé, simao e judas? E suas irmãs não vivem elas todas entre nós? (Mateus, XIII-55 e 56).
Pois bem, este tiago que encabeça a lista é um Apóstolo, pois diz S. Paulo na Epístola aos Gálatas: "E dos outros apóstolos não vi a nenhum, senão a tiago, irmão do SENHOR (Gálatas, 1-19).

Quer dizer então que, segundo a opinião desses protestantes, este Tiago Apóstolo era filho de Maria, mãe de Jesus; e de Maria e de José, porque, como os próprios protestantes reconhecem, Maria nunca teve filhos antes de seu casamento com José. E não se casou com outro depois da morte de José, pois na hora da morte de Cristo, ela está sozinha, sem marido e Cristo a entrega a S. João Evangelista; além disto se Maria tivesse casado outra vez, seus filhos estariam pequenos, não estariam em idade de ser Apóstolos.
"
Temos 2 Apóstolos com o nome de Tiago: Tiago Maior, e Tiago Menor. Vamos ver se algum deles era filho de José com Maria.
S. Tiago Maior era irmão de S. João Evangelista, e ambos FILHOS DE ZEBEDEU: "Da mesma sorte havia deixado atônitos a tiago e a. JOÃO, filhos db zebedeu (Lucas V-IO).

S. Tiago Menor, que era irmão de Judas, era filho de ALFEU. Entre os Apóstolos, que são enumerados pôr S. Mateus, estão: Tiago FILHO DE ZEBEDEU, e Tiago filho de ALFEU (Mateus X-3). Que tem a ver Maria Santíssima com este Alfeu ou com este Zebedeu? Logo, este Tiago, IRMÃO DO SENHOR, não é seu filho.

Além disto, comparando-se os Evangelhos, se vê claramente que este Tiago « este José que encabeçam a lista são PRIMOS de Jesus», e o Tiago é o Apóstolo Tiago Menor. Enumerando as mulheres que estavam juntamente com Maria ao pé da cruz, Mateus, Marcos e João as identificam da seguinte maneira:

Mateus XXVII- 56
Marcos XV - 40
João XIX - 25
Maria, mãe de Tiago e de José;
Maria, mãe de Tiago Menor e de José;
a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cleofas
Maria Madalena;
Maria Madalena
Maria Madalena
a mãe dos filhos de Zebedeu.
Salomé

Por aí se vê que a mesma Maria que é apresentada por São João como tia de Jesus (Irmã de sua mãe) é apresentada por São Mateus e S. Marcos como mãe de TIAGO MENOR E de José. E é claro que não se trata de Maria Salomé, que é a mãe dos filhos de Zebedeu e, portanto, é mãe de Tiago Maior.

Tiago Menor e José são, portanto, PRIMOS de Jesus e são os primeiros que. encabeçam aquela lista: TIAGO, JOSÉ, JUDAS E SIMÃO
E de fato o Apóstolo S. Judas Tadeu era irmão de S. Tiago Menor, pois ele diz no começo de sua Epístola: "Judas, servo de Jesus Cristo e IRMÃO de Tiago (vers. l.). Tanto o Evangelho de S. Lucas (VI-16) como os Atos dos Apóstolos (1-13) para diferenciarem Judas Tadeu de Judas Iscariotes, chamam a Judas Tadeu: Judas, irmão de Tiago.

E assim cai por terra fragorosamente a alegação dos protestantes de que Maria teve outros filhos além do Divino Salvador, alegação baseada em que o Evangelho fala em irmãos de jesus. Não só provamos que entre os hebreus se chamavam IRMÃOS os parentes próximos, mas também mostramos que a lista dos nomes apresentados como sendo destes IRMÃOS é logo encabeçada pôr dois PRIMOS, filhos da irmã da mãe de Jesus. Logo, não tem nenhum valor a alegação.

A única dificuldade, esta agora já sem importância, que pode fazer o protestante é que Tiago Menor é filho de ALFEU, e sua mãe é apresentada COMO MULHER DE CLEOFAS.

Sem precisar recorrer a nenhum argumento de tradição (porque talvez os protestantes não gostem disto) temos que observar o seguinte:

l.0 — o texto original não diz MULHER DE CLEOFAS, mas diz simplesmente: a irmã de sua mãe, Miaria, a do Cleofas (texto grego de João XIX-25); podia chamar-se Maria, a do Cleofas, pôr causa do pai ou pôr outro qualquer motivo;

20 — não repugna que a mesma Maria se tenha casado com Alfeu e dele tenha tido S. Tiago Menor, e depois se tenha casado com Cleofas e tido outros filhos ou mesmo deixado de ter. Tiago é o único que é apontado nos Evangelhos como filho deste Alfeu, pois o Alfeu, pai de S. Mateus (Marcos 11-14) já deve ser outro;

3.° — não repugna que o próprio Alfeu seja o mesmo Cleofas. É muito comum nas Escrituras uma pessoa ser conhecida pôr 2 nomes diversos: O sogro de Moisés é chamado Raguel (Êxodo 11-18 a 21) e logo depois é chamado Jetro (Êxodo, III - l). Gedeão, depois de ter derribado o altar de Baal é chamado também Jerobaal (Juizes, VI-32). Osias, rei de Judá, é chamado também Azarias (4 Reis, XV-32; I Paralipômenos, III-12). E no Novo Testamento o mesmo Mateus é chamado Levi: "Viu um homem, que estava assentado no telônio, chamado Mateus (Mateus, IX-9) . "Viu a Levi, filho de Alfeu, assentado no telônio (Marcos, 11-14). O mesmo que é chamado José é chamado Barsabas (Atos, I, 23).

Ainda hoje mesmo, entre nós, nas nossas localidades do interior principalmente, é multo comum esta duplicidade de nomes.

Seja Alfeu o mesmo Cleofas ou não seja. Isto pouco importa. 0 que é fato é que Maria de Cleofas é Irmã de Maria, mãe.de Jesus e é ao mesmo tempo mãe de Tiago e de José, que são chamados IRMÃOS do Senhor" (Lúcio Navarro, Legítima Interpretação da Bíblia, Campanha de Instrução religiosa, Brasil- Portugal, Recife, 1958 n0 400, pp.590 a 592 inclusive).


Fica, portanto, provado, que os irmãos de Jesus eram seus parentes, conforme a própria Sagrada Escritura.

Esperando sua refutação...

Ad Majorem Gloriam Dei,
Sérgio Meneses

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