Sunday, March 2, 2008

Fogo de Chão: Conquistando paladares em todo o mundo

Entrevista

FOGO DE CHÃO: CONQUISTANDO PALADARES EM TODO O MUNDO

Viviane Macedo


Trabalhando com churrasco desde os 14 anos, ele tem convicção de que fez a escolha certa, e o sucesso do seu negócio não o deixa mentir. Arri Coser, sócio-fundador do Fogo de Chão, comprou a churrascaria em 1980, junto com seu irmão, Jair.

Apaixonado pelo que faz, Coser contou ao Jornal Carreira & Sucesso um pouco da história da empresa e a forma como ela foi conquistando os paladares em todo o mundo. Ele faz questão de deixar claro que o mérito não é só dele: o irmão sempre esteve junto, trabalhando para o sucesso que conquistaram: "Eu e o meu irmão sempre juntos. Quando eu falo no Fogo de Chão, eu falo de nós dois, sempre."


Jornal Carreira & Sucesso: Conte um pouco sobre o início do Fogo de Chão, ainda em Porto Alegre:
Arri Coser:
O Fogo de Chão foi fundado em 1979. Em 1980, nós a compramos e mudamos o conceito. De à la carte passamos a espeto corrido, que é o rodízio hoje. Ficamos alguns anos lá, testando nossas habilidades em cada função, em cada área. Por ser um negócio menor, tínhamos algumas dificuldades para encontrar fornecedores, e determinados processos eram mais difíceis por não sermos grandes, o que nos fez aprender muito. Depois de alguns anos fizemos outros restaurantes diferentes lá em Porto Alegre. E de 1985 para 1986 viemos para São Paulo, quando abrimos a nossa primeira loja em Moema. E em 1987 abrimos a de Santo Amaro.

C&S: E você dirigia sozinho ou tinha alguém mais?
Coser:
Eu e o meu irmão sempre juntos. Quando eu falo no Fogo de Chão, eu falo de nós dois, sempre! Nós começamos em quatro, depois tivemos outros sócios, no percurso de São Paulo, até 1990, quando mudamos de direção e voltamos a ser de novo como era no início.

C&S: Desde os 14 anos que você trabalha nessa área. Quantos anos você tinha quando comprou o Fogo de Chão?
Coser:
Eu tinha 17 para 18 anos.

C&S: Vocês compraram e mudaram um pouco o conceito de tudo. Como foi a receptividade?
Coser:
Na verdade, nós não mudamos o conceito. Como eram sete dias por semana de à la carte, a gente fez um dia de rodízio de teste, que era o domingo. E foi um sucesso, a receptividade foi ótima, então passamos a fazer nos outros dias também. Foi o cliente que escolheu, não fomos nós. Apenas apresentamos o sistema e o cliente aprovou.

C&S: E como se deu a vinda para São Paulo? Por que vocês decidiram vir para cá?
Coser:
Porto Alegre era uma cidade menor, e ainda hoje é uma cidade pequena, e todos os clientes que eram de São Paulo diziam que tínhamos que vir pra cá, que daria muito certo. E ficamos pensando nisso. Na época, havia festivais lá no Sul e o júri era formado por pessoas que moravam em São Paulo: Silvio Lancelotti, Dias Gomes, da Globo, César Camargo Mariano... Todo esse pessoal ficava lá, e eles iam três noites seguidas em nosso restaurante. Eles tinham o mesmo discurso dos outros: diziam que a gente devia vir para São Paulo, que com certeza daria certo, e por esse motivo que eu até falo que eles são como padrinhos. Eles deram telefones das próprias casas e diziam que podíamos ligar que eles iriam nos receber quando viéssemos para cá.
Como eles, tivemos um monte de clientes que fizeram essas coisas, e claro que ouvimos! Por coincidência ou não, apareceu um terreno em Moema, foi quando nós viemos, alugamos o terreno, construímos o restaurante e abrimos. E eu brinco muito, e costumo dizer que essas coisas de mudanças de cidade ou de país a gente não tem que fazer muita conta, nem pensar nas dificuldades, se não você não vai. Então, se é pra ir, eu estou indo. Depois a gente vê o que acontece.


C&S: Vocês estavam numa cidade relativamente pequena, se comparada a São Paulo. Como foi se adaptar aqui e criar uma estrutura na cidade grande?
Coser:
A vantagem é que aqui você tem mais público, existe mais poder aquisitivo. E, com isso, você resolve todos os problemas que você tem, desenvolve fornecedores e tudo se torna mais fácil.

C&S: E, em sua opinião, quais foram as maiores dificuldades que vocês enfrentaram aqui.
Coser:
Falta de dinheiro, falta de financiamento, porque nós não tínhamos crédito na época. Então tínhamos de recorrer a conhecidos para arrecadar fundos e construir o negócio.

C&S: Muita gente tenta abrir um negócio, fazer uma estrutura, mas não consegue o sucesso que vocês conseguiram. A que você atribui esse sucesso?
Coser:
Mais ou menos 10% de imaginação e sonho, e o resto tudo transpiração mesmo. Na maioria das vezes, o projeto não é bem-sucedido porque a pessoa não tem vocação para o negócio, simplesmente acha que aquilo dá certo e faz. Pra mim, tem de se apaixonar. Eu sou apaixonado pelo meu negócio! Gosto de comida, do serviço, de gente. Assim fica mais fácil fazer, porque quando se apaixona não tem problema se você trabalha 20, 22 ou 24 horas. Quando fazemos o que nos dá prazer, não nos cansamos disso. Eu acho que, independente do negócio que a pessoa quer fazer, ela precisa antes se perguntar se é apaixonada por isso. A maioria das pessoas monta um negócio porque não quer mais trabalhar como empregado, e estão enganadas porque aí é que elas vão trabalhar como empregado mesmo, ainda mais porque o cliente que é o seu patrão. Uma outra coisa muito importante é ter tempo para se dedicar àquilo, para que de fato dê certo. No meu caso foi muito bom, porque, na época, eu era solteiro, não tinha família, então tinha toda a chance de me dedicar nesse tempo que nós precisávamos.

C&S: E, depois do sucesso aqui, vocês foram para os EUA?
Coser:
É. Depois daqui, para lá foi a mesma coisa. Mas daí foi meu irmão que fez toda a história por lá.

C&S: E como tudo aconteceu?
Coser:
Foi mais ou menos a mesma coisa que aconteceu quando viemos para São Paulo. Também recebíamos muitos clientes americanos, que falavam que tínhamos de ir pra lá. Hoje temos clientes do mundo inteiro e todos dizem a mesma coisa. Mas a América me encantou quando eu fui conhecer, e vi o poder de compra, a estrutura que ela tem. Fiquei encantado. Era o país que eu mais conhecia e tinha viajado até aquele momento. Então fomos pra lá. Meu irmão foi e não voltou mais...(risos). Meus sócios na época também foram junto com ele. Foi um time nosso daqui de São Paulo que fez todo o sucesso da operação lá. Essas pessoas fizeram a diferença.

C&S: E quantos funcionários vocês têm hoje?
Coser:
Hoje nós temos quase 500 aqui no Brasil e 650 lá, nos Estados Unidos. Até o final do ano, teremos 1.200 no total. Serão 500 aqui no Brasil e 700 lá.

C&S: O pessoal que está à frente do negócio nos EUA é daqui?
Coser:
Hoje é a minoria, mas foram só os postos-chaves das operações. É a mesma coisa que as multinacionais que vieram para cá.

C&S:Você disse que deu certo lá por causa das pessoas que foram daqui. Esse reconhecimento vocês tentam passar para esses funcionários sempre?
Coser:
Nem preciso passar. Eles sabem disso, porque eu fico falando isso o tempo todo para eles (risos). Todos eles sabem disso!

C&S: Você se sente uma pessoa realizada profissionalmente?
Coser:
Eu sempre fui realizado, desde que eu comecei a trabalhar, lá com 14 anos, por ter escolhido essa profissão. Então, isso agrega e alegra, é divertido. Não posso entrar no restaurante triste, porque as pessoas vão para lá para comemorar. Tenho convicção de que escolhi a coisa certa e já faz parte de mim, isso de estar de bom humor o tempo todo.


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