Ah! Se fosse os ingleses.
O grande desenvolvimento e enriquecimento vivido no último século pelos EUA, devido principalmente a Segunda Guerra Mundial, criou de uma maneira geral em qualquer tema discutido sobre a história deles, uma auréola de grandeza, de tal forma, que pensamos que tudo que ocorreu na cronologia de criação da nação norte-americana foi um rio de prosperidade e organização política, urbanística, cultural, assistencial e econômica. E como é de se pensar, países que hoje se encontram longe das determinações de avanço, cai a margem lógica da análise histórica, o que de costume trás várias mentiras ou interpretações grosseiras e tendenciosas. E esse caso ocorre com nós, brasileiros.
Um dos argumentos mais conhecidos para justificar a situação norte-americana em paralelo com a brasileira , é a de que ingleses e portugueses tinham estratégias diferentes em relação as suas colônias. Enquanto Portugal visava somente "extorquir" matérias primas do Brasil, a Inglaterra, tinha como um dos principais pilares em seus planos de colonização, o "povoamento". Duvido que alguém que tenha completado seu ensino-médio - ou que ainda esteja cursando - no Brasil, não tenha ouvido essa famosa afirmação. Se a resposta é não, te considero um afortunado, por que eu já.
Não pretendo me estender muito, quero me centrar principalmente nesse argumento de suposta estratégia de povoamento inglesa. Segundo nos conta André Maurois na página 81 de sua História dos Estados Unidos: "as cidades eram raras e por volta de 1770 somente 5 dentre elas tinham mais de 8 mil habitantes, vindo a Filadélfia em primeiro lugar com 10 ou 12 mil habitantes, em seguida por Boston e Nova York. As fábricas eram modestas e raras, porque a Inglaterra procurava desanimar sua criação. Para os ingleses suas colônias não passavam de empresas lucrativas, servindo de plantações destinadas a lhes fornecer produtos para não dependerem de outros países e de escoamento de seus manufaturados, cuja a produção ficava a cargo da Metrópole". Esse mesmo autor nos diz novamente na página 68 do mesmo livro que em 1763, nas vésperas da Independência, a população americana não passava dos 1.250.000 habitantes brancos e 230.000 negros. Além de que, o território ocupado por eles, era inferior a de 1 milhão de quilômetros quadrados. O mais curioso é que, no Brasil submisso a calamidade das intenções portuguesas, encontrávamos na mesma época, uma população estimada em 4 milhões de habitantes e desde o início do século XVIII uma área aproximada a 8 milhões de quilômetros quadrados, que fora conquistada pelos colonos. Ou seja, população 4 vezes e território 8 vezes maior que o norte-americano.
Agora me pergunto, existe algo relevante em matéria de estabelecimentos culturais, de ensino e de saúde, em cinco cidades com 8 ou 10 mil habitantes? Cidades desse tamanho, tem em si uma simples estrutura, se parecendo mais a uma vila, que poderia comportar no máximo escolas que não ultrapassariam o ensino do ler e do escrever.
Um outro historiador, Robert Southey, em sua obra História do Brasil, que em 1810 foi publicada através de 6 volumes, nos fornece informações valiosíssimas sobre as cidades brasileiras daquela época. Considero essa obra digna de grande confiança, essencialmente por ser o autor contemporâneo de boa parte dos acontecimentos.
Segundo as descrições das folhas 303 a 306 do volume 6, a população de Salvador em 1790 correspondia a de 100 mil habitantes, sendo toda a capitania da Bahia formada por 600 mil. Prosseguindo, diz que na cidade além de vários conventos, também possuía uma biblioteca pública, um hospital de misericórdia, um hospital para lázaros, um recolhimento para órfãos, um seminário para órfãos, um teatro, casa da moeda, vários tribunais, aulas régias de grego, latim, filosofia, retórica e matemática, além de vários livreiros, ouvires e lapidários. Somente a Capitania baiana alcançava quase a metade de toda a população das 13 colônias inglesas. E isso sem contar a cidade do Rio de Janeiro, que já em 1748 contava com 27 mil habitantes, que final do século chegaria aos 100 mil.
Acredito não ser necessário fazer nenhum discurso depois do apresentado. Nos próximos artigos pretendo seguir com esse mesmo tema, fazendo paralelo entre ambas colonizações, tentando o máximo possível apresentar documentos primários, para que assim, a comparação e análises parta mais de vocês que de mim. E por isso que digo, "ah! Se fosse os ingleses"...
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