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Notícia de Quarta, 12 de Dezembro de 2007
Complexo de inferioridade
O fato é que, grande parte da população brasileira, já se acostumou
com os problemas nacionais a ponto não de esquecê-los - mesmo porque
os percebemos diariamente nas ruas das grandes cidades -, mas de
repousar nossas consciências em uma percepção extremamente equivocada:
a de que a responsabilidade é inteiramente da classe política
nacional. Com a evidente desmoralização dos políticos brasileiros, a
sociedade está se utilizando, cada vez mais, de falácias como "todo
político é ladrão" para justificar sua própria acomodação no processo
de deterioração das instituições democráticas e, por conseguinte, das
relações sociais. Vale destacar as culturas de massa exploradas no
Brasil, a exemplo do futebol, carnaval e enlatados como o Big Brother
Brasil, que certamente não têm culpabilidade nos gargalos brasileiros,
mas com certeza exercem um inquestionável 'desserviço' no que concerne
à atenção da população em relação aos seus próprios problemas. Ou é
possível invalidar a importância de um programa como o BBB, que
estimula milhões de pessoas a votarem na manutenção ou saída dos
participantes da casa? Se parte desse afã tupiniquim fosse transferido
para temas mais relevantes, certamente alguma coisa mudaria nesse
País. Mas, todos têm o direito à diversão.
Existe hoje, além do pseudo-patriotismo de quatro em quatro anos, um
certo sentimento regional de "Viva a América Latina" devido aos
discursos populistas que tomaram o Brasil, a Venezuela e a Bolívia,
direcionados ao confronto com o Grande Império. Os brasileiros não
torcem apenas para que a seleção derrotada de forma humilhante pela
França em 2006 vença, mas sobretudo que a crise nos Estados Unidos se
acentue e que Hugo Chávez viabilize o seu projeto socialista para que
todos sejamos salvos dos tentáculos do Mal. Apesar da amplitude dos
valores capitalistas em nosso País e da penetração do american way of
life nas camadas mais jovens, há quem defenda hostilidades aos
americanos - como se viu na última visita de George W. Bush. A questão
é que, uma capa negativa do New York Times sobre a violência no Brasil
repercute no Mundo e nos deixa completamente enfurecidos, apesar de
todo realismo; enquanto isso, uma capa da Folha de São Paulo no
caderno saúde sobre a obesidade dos jovens americanos nem sequer
ultrapassam as fronteiras tupiniquins. O brasileiro não compreende
que, a solução de nossos problemas não pode ser justificada com a
existência de paralelos em outros lugares, sob pena que a nossa
preguiça intelectual impeça o desenvolvimento do gigante adormecido.
O que o senador Marcelo Crivella levou à tribuna da Casa Revisora foi
um exemplo isolado de superação; algo que não retrata a realidade
educacional do Brasil, caracterizada por total despreparo dos
estudantes posicionados em colocações secundários em rankings
internacionais. Isso reflete a fragilidade do ego de um povo, que por
ter tão pouco a celebrar se agarra com "unhas e dentes" nas poucas
coisas que ainda trazem certa alegria, a exemplo do futebol e do
carnaval - nada mais que anestésicos que aliviam a dor de uma
população sofrida que se contenta com os farelos lançados ao vento que
guia, de forma incerta, o destino de um gigante adormecido, que ainda
por gerações e gerações será apenas uma promessa para o futuro. Não
por falta de recursos naturais, mas simplesmente porque seu povo
prefere vê-lo dessa forma a abdicar de sua diversão para pensar as
grandes questões nacionais. Os problemas tupiniquins são,
simplesmente, a falta de interesse em mudar, quando o desconfortável
ainda oferece algum conforto e a mudança escancara um caminho longo e
tortuoso de trabalho.
Artur Salles Lisboa de Oliveira.
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