http://br.groups.yahoo.com/group/veg-brasil/message/112981
O MODELO ANIMAL
Sérgio Greif
Se um pesquisador propusesse testar um medicamento para idosos
utilizando como modelo moças de vinte anos; ou testar os benefícios de
determinada droga para minimizar os efeitos da menopausa utilizando
como modelo homens, certamente haveria um questionamento quanto à
cientificidade de sua metodologia.
Isso porque assume-se que moças não sejam modelos representativos da
população de idosos e que rapazes não sejam o melhor modelo para o
estudo de problemas pertinentes às mulheres. Se isso é lógico, e
estamos tratando de uma mesma espécie, por que motivo aceitamos como
científico que se teste drogas para idosos ou para mulheres em animais
que sequer pertencem à mesma espécie?
Por que aceitar que a cura para a AIDS esteja no teste de medicamentos
em animais que sequer desenvolvem essa doença? E mesmo que o fizessem,
como dizer que a doença se comporta nesses animais da mesma forma que
em humanos? Mesmo livros de bioterismo reconhecem que o modelo animal
não é adequado.
Dados experimentais obtidos de uma espécie não podem ser extrapolados
para outras espécies. Se queremos saber de que forma determinada
espécie reage a determinado estímulo, a única forma de fazê-lo é
observando populações dessaa espécie naturalmente recebendo esse
estímulo ou induzi-lo em certa população.
Induzir o estímulo esbarra no problema da ética e da cientificidade.
Primeira pergunta: será que é certo, será que é meu direito pegar
indivíduos e induzir neles estímulos que naturalmente não estavam
incidindo sobre eles? Segunda pergunta: será que é científico, se o
organismo receber um estímulo induzido, de maneira diferente à forma
como ele naturalmente se daria, será ele modelo representativo da
condição real?
Ratos não são seres humanos em miniatura. Drogas aplicadas em ratos
não nos dão indícios do que acontecerá quando seres humanos consumirem
essas mesmas drogas. Há algumas semelhanças no funcionamento dos
sistemas de ratos e homens, é claro, somos todos mamíferos, mas essas
semelhanças são paralelos. Não se pode ignorar as diferenças, as
muitas variáveis que tornam cada espécie única. Essas diferenças, por
menores que pareçam, são tão significativas que por vezes produzem
resultados antagônicos.
Testes realizados em ratos não servem tampouco para avaliar os efeitos
de drogas em camundongos. Isso porque apesar de aparente semelhança,
ambas as espécies possuem vias metabólicas bastante diferentes.
Diferenças metabólicas não são difíceis de encontrar nem mesmo dentro
de uma mesma espécie, admite-se que as drogas presentes no mercado são
efetivas apenas para 30-50% da população humana.
Na prática o que acontece é que um rato pode receber uma dose de
determinada substância e metabolizá-la de maneira que ela se
biotransforme em um composto tóxico. A toxicidade mata o rato, mas no
ser humano essa droga poderia ser inócua, quem sabe a resposta para
uma doença severa. Por outro lado, o teste em ratos pode demonstrar a
segurança de uma droga que no ser humano se demonstre tóxica.
Centenas de drogas testadas e aprovadas em animais foram colocadas no
mercado para uso por seres humanos e precisaram ser recolhidas poucos
meses após, por haverem sido identificados efeitos adversos à
população. Se as pesquisas com animais realmente pudessem prever os
efeitos de drogas a seres humanos, esses eventos não teriam ocorrido.
Dessa forma, pode-se inferir que a pesquisa que utiliza animais como
modelo não só não beneficia seres humanos, como também potencialmente
os prejudica.
O modelo de saúde que defendemos é aquele que valoriza a vida humana e
animal. Os interesses da indústria farmacêuticas e das instituições de
pesquisa que lucram com a experimentação animal não nos dizem
respeito. Buscamos por soluções reais para problemas reais.
Os maiores progressos em saúde coletiva se deram através de sucessivas
mudanças no estilo de vida das populações. Há uma forte co-relação
entre nossa saúde e o estilo de vida que levamos. Se nosso estilo de
vida é dessa ou daquela forma, isso reflete em nossa saúde. Está claro
que as doenças sejam reflexo, em grande parte, de nosso estilo de vida
e que a cura deva estar em correções nesses hábitos.
--
Sérgio Greif é biólogo em São Paulo/SP, mestre em Alimentos e
Nutrição, autor dos livro "A Verdadeira Face da Experimentação Animal:
A sua saúde em perigo" e "Alternativas ao Uso de Animais Vivos na
Educação: pela ciência responsável".
E-mail: sergio_greif@
-----
Quais são as vantagens do camundongo como organismo modelo? O
camundongo tem se tornado o mamífero modelo por causa das
similaridades biológicas que o aproximam dos seres humanos, sendo ele
um mamífero, muitas de suas vias metabólicas são similares ao homem.
Além disso, estima-se que a homologia do DNA codificador entre estas
duas espécies está compreendido entre 70 a 90%. Os camundongos têm um
ciclo de vida relativamente curto, eles são prolíficos reprodutores e
podem ser mantidos em laboratórios, permitindo, assim, um controle do
meio ambiente, que é a principal contribuição, sendo extremamente
difícil de se manter um controle ambiental em estudos de doenças
humanas complexas.
http://www.fesbe.org.br/v3/?page=informacoes/ler&tipo=informacao_a&id=616
----
http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=34746
artigo
19/11/2007
Em benefício do ser humano?
Sérgio Greif (*)
Algumas instituições científicas, se dizendo bastante preocupadas com
o futuro da ciência, estiveram no último dia 13, em Brasília para
tentar mobilizar os deputados para apressar a votação, e aprovação, do
Projeto de Lei 1153/95, que regulamenta a experimentação animal. A
alegação é a de que a falta de regulamentação, até o momento, torna o
setor frágil frente a atuação de grupos opostos à experimentação
animal. Nessa linha de argumentação, a ciência não pode progredir sem
a experimentação animal, e dela depende a saúde humana. Alegam também
que ainda não existem alternativas para todas as pesquisas que são
realizadas em animais.
Esse evento traz à tona uma discussão que não pode deixar de ser
debatida por toda a sociedade. São os animais modelos que reproduzem o
metabolismo do ser humano? Pesquisas em animais beneficiam seres
humanos? Sabemos que o câncer é, desde a década de 80, tão fatal para
ratos quanto o resfriado é para nós. Sabemos que ratos não tem mais
problema de colesterol elevado, graças a um coquetel de vitaminas que
os cientistas desenvolveram especialmente para eles. Sabemos que o Mal
de Parkinson, Mal de Chagas, o nanismo e até o déficit mental são
problemas do passado para esses animais. E que ratos que sofrem lesão
na medula podem voltar a andar desde a década de 90.
Todos esses resultados promissores, obtidos já há tantos anos, às
custas de muitas horas de trabalho dos cientistas e muitos bilhões de
dólares do contribuinte, porém, de nada servem para o ser humano.
Seres humanos continuam morrendo de câncer, sofrendo com seu
colesterol elevado, Mal de Parkinson, Mal de Chagas e paraplegia.
Embora a medicina esteja tão avançada no que diz respeito a roedores,
ainda estamos engatinhando no que diz respeito ao ser humano.
Isso porque o modelo que adotamos para nos representar não nos
representa. Todos os dados obtidos experimentalmente de animais não
podem ser extrapolados para seres humanos. Ainda que partilhemos
muitas características fisiológicas e metabólicas com os demais
animais, as diferenças entre as espécies levam a resultados muito
diversos.
Animais são utilizados em experimentos porque esse é o modelo de
medicina que vem se desenvolvendo desde o século XVIII, mas de forma
alguma isso significa que essa seja a forma mais correta de melhorar a
saúde da população.
Chega a ser ofensivo ver cientistas, pessoas com formação adequada e
que deveriam buscar a verdade acima de tudo, utilizar de linguagem
agressiva e maliciosa para tentar fazer valer seus interesses
particulares. Se a medicina hoje se encontra atrasada, é porque ela se
baseia na experimentação animal e não será pela experimentação animal
que ela irá se desenvolver.
Defender o fim da experimentação animal não é colocar-se contra a
ciência ou contra o ser humano, pelo contrário, é defender os
interesses do ser humano e, acima de tudo, defender a ciência.
A medicina humana deve avançar mediante o estudo de seres humanos.
Isso não significa aprisionar nossos desafetos em campos de
concentração e utilizá-los como cobaias, tampouco isso seria
científico. Atualmente a epidemiologia e a clínica médica são ciências
periféricas frente às grandes indústrias farmacêuticas e instituições
de pesquisa, que produzem novos tratamentos e medicamentos. Mas,
embora a venda de medicamentos atenda a interesses comerciais de
grupos poderosos, a saúde da população não se encontra nesses
medicamentos. Quando o cientista realmente busca a saúde da
população, não é para o animal preso em um laboratório que ele deve
olhar, mas para a população que já padece da doença.
Quais as origens dessa doença? Quais suas causa? Essas causas podem
ser evitadas? Seus sintomas podem ser contornados sem que para isso se
criem novas doenças, com novos sintomas?
A medicina baseada na experimentação animal não beneficia seres
humanos, exceto se eles tiverem interesses comerciais envolvidos. A
medicina que de fato beneficia seres humanos é toda ela baseada no ser
humano.
* Biólogo do grupo Veddas, em São Paulo (SP), mestre em Alimentos e
Nutrição, co-autor do livro "A Verdadeira Face da Experimentação
Animal: A sua saúde em perigo" e autor do livro "Alternativas ao Uso
de Animais Vivos na Educação: pela ciência responsável".
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